Sobre o selo
A criação do selo foi baseada em
duas fotografias reais do evento à
época: uma foto do eclipse e outra dos preparativos da observação. A técnica utilizada foi a composição artística das imagens. Para
dar destaque ao eclipse, foi aplicado um filtro fotográfico solar, e na
parte dos preparativos foi gerada
uma sombra de maneira artificial
em objetos e pessoas, simulando
um ambiente mais escuro. Para finalizar foi ilustrado o céu de Sobral
com o modelo de estrelas observadas de acordo com publicações sobre o assunto.
Lançamento 29 de maio de 2019, em Sobral/CE Arte: Rodrigo Cassaro, - Dimensões do selo 40 x 30 mm |
O Eclipse Solar de 1919 observado em Sobral
As medidas da deflexão da luz das estrelas na borda do Sol, delas decorrentes, constituíram uma prova fundamental para a confirmação da Teoria da Relatividade Geral de Einstein. Essa teoria alterou profundamente a nossa visão sobre o Universo, sua estrutura e funcionamento. Ela suplantou a teoria gravitacional que Newton havia formulado dois séculos antes. As observações decisivas foram feitas por astrônomos britânicos em Sobral (Ceará) e na Ilha do Príncipe (África), então pertencente a Portugal.
O encurvamento do raio luminoso proveniente de uma estrela, quando passa próximo do Sol, já havia sido previsto um século antes com base na teoria de
Newton. Em 1911, e independentemente, Einstein chegou à mesma previsão. Ele
propôs aos astrônomos que a deflexão da luz poderia ser medida em um eclipse
solar total, por meio de fotografias de estrelas cuja luz passasse na borda do Sol
comparadas com fotos das mesmas estrelas quando o Sol não estivesse mais
na frente delas. Uma expedição astronômica argentina, dirigida por Charles D.
Perrine, tentou medir essa deflexão da luz das estrelas, em 1912. As observações,
durante um eclipse solar total, seriam feitas em Cristina, Minas Gerais; mas choveu todo o tempo e nada foi medido. Outras tentativas, e igualmente frustradas,
foram feitas na Crimeia (1914), na Venezuela (1916) e nos EUA (1918).
Em 1915, Einstein elaborou a Teoria da Relatividade Geral baseado na ideia
de que a gravitação resulta da alteração da geometria do espaço-tempo pela
presença da matéria. A matéria diz ao espaço-tempo como se curvar e a geometria do espaço-tempo diz à matéria como ela deve se mover. E previu que a
luz das estrelas, ao seguir a trajetória mais curta no espaço-tempo, sofreria uma
deflexão nas vizinhanças do Sol por um valor que seria o dobro do previsto na
teoria newtoniana: o ângulo de deflexão deveria ser aproximadamente 1,74”
(segundos de arco).
Astrônomos britânicos organizaram duas expedições para observar
o eclipse solar de 29 de maio de 1919: uma, com Arthur Eddington e Edwin
Cottingham, para a Ilha do Príncipe, e outra, com Charles Davidson e Andrew
Crommelin, para Sobral. A escolha de Sobral como ponto de observação no
Brasil foi feita por Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional do Rio de
Janeiro, que ficou também encarregado de providenciar a infraestrutura para as
expedições estrangeiras que iriam para Sobral.
Em Sobral, no dia 29 de maio de 1919, apesar do tempo inicialmente nublado, as condições ficaram boas na hora do eclipse, que ocorreu às 08:56 h e durou
cerca de 5 minutos. Sete fotografias tiradas pelos astrônomos britânicos foram
consideradas muito boas; sete estrelas apareciam nelas. Já na Ilha do Príncipe
o tempo esteve chuvoso e só duas fotos puderam ser aproveitadas, e levaram a
resultados mais incertos que os de Sobral.
A comissão brasileira em Sobral, liderada por Morize, fez observações sobre a corona solar durante o eclipse e tirou lindas fotos de uma imensa protuberância solar. Os astrônomos estrangeiros ficaram muito agradecidos pela
recepção e apoio que receberam da comissão brasileira, das autoridades e da
população de Sobral.
Em 6 de novembro de 1919, os astrônomos britânicos expuseram os resultados das observações feitas em Sobral e na Ilha do Príncipe. Elas levaram a um ângulo de deflexão próximo, dentro da margem de erro, daquele previsto
pela Teoria da Relatividade Geral. Einstein tinha razão! Sobre a importância das
observações em Sobral, eles afirmaram: “Resumindo os resultados das duas expedições, o maior peso deve ser atribuído aos obtidos com a lente de 4 polegadas
em Sobral. Da superioridade das imagens e da escala maior das fotografias, reconheceu-se que estas seriam as mais confiáveis”.
Nos dias seguintes, manchetes de jornais de todo o mundo estamparam que
ocorrera uma revolução na ciência: a teoria de Einstein suplantara a de Newton.
Este acontecimento fez com que Einstein, um cientista até então conhecido apenas por colegas físicos, se tornasse o cientista mais conhecido de todos os tempos. Quando esteve no Rio de Janeiro, em 1925, Einstein declarou: “O problema
concebido pelo meu cérebro incumbiu-se de resolvê-lo o luminoso céu do Brasil.”
A emissão de um selo comemorativo do centenário do eclipse de 1919 pela
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, uma empresa pública, vinculada ao
MCTIC, faz justiça a este evento de enorme importância para a ciência e para a
humanidade. O eclipse solar de 1919, observado em terras brasileiras, em Sobral,
contribuiu para que Einstein se tornasse um cientista muito conhecido e para a
consolidação da Teoria da Relatividade Geral, a teoria que é atualmente aceita
pela ciência para a descrição do Universo e do movimento dos astros.
.
Ildeu de Castro Moreira
Instituto de Física – UFRJ
Todas informações acima foram transcritas do Edital 7 - 2019, dos Correios do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário