SOBRE O SELO
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Lançamento: 11.12.2018 |
É um se-tenant com dois selos
interligados por elemento em comum
entre os dois cientistas retratados:
um átomo. Neste caso, o átomo é de
nitrogênio e foi representado de maneira
lúdica como nos livros didáticos. As
cores de base de cada selo também
busca se relacionar com o campo de
atuação dos dois cientistas. Uma das
grandes descobertas de César Lattes
foi a partícula atômica Méson Pi. Lattes
estudou os raios cósmicos, montando
um laboratório em uma montanha nos
Andes e utilizando chapas fotográficas
melhoradas com boro. O desenho do
selo busca ilustrar estes experimentos.
Por fim, na textura ao fundo de sua
imagem, foram utilizados alguns
rascunhos, representando cálculos e
fórmulas. Já a engenheira agrônoma
Johanna Döbereiner foi pioneira no
estudo da biologia do solo e seus estudos
tiveram grande impacto na produção
agrícola brasileira. A ilustração do selo
demonstra sua principal pesquisa: a
relação entre uma planta e as bactérias
fixadoras de nitrogênio. Como textura ao
fundo de sua imagem, foram utilizadas
ilustrações em vetor de algumas folhas
e leguminosas. Foi usada a técnica de
desenho vetorial
Homenagem aos Cientistas Brasileiros
Com a emissão desses selos, os Correios homenageiam o cientista Cesar Lattes, cujo
trabalho e dedicação impulsionou a construção da estrutura político-administrativa de
ciência no Brasil, e a cientista Joanna Döbereiner, pioneira no estudo da biologia do solo e
na pesquisa sobre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) nas plantas pela bactéria rhizobium,
descoberta que tornou-se referência mundial e revolucionou a agricultura no País.
Cesar Lattes
Cesare Mansueto Giulio Lattes, conhecido como Cesar Lattes, foi um dos cientistas
brasileiros mais brilhantes de sua geração. Com apenas 23 anos, ao lado do cientista
inglês Cecil Frank Powell e do italiano Giuseppe Occhialini, descobriu uma partícula
no interior do núcleo atômico que assegura a coesão do átomo: o méson-pi (pion ou
pi-meson). Esse estudo rendeu a Powell o prêmio Nobel de Física de 1950.
Filho de imigrantes italianos, Lattes nasceu em 1924, na cidade de Curitiba.
Graduou-se em física e matemática pela Universidade de São Paulo (USP) com apenas
19 anos. Após o seu bacharelado, Lattes dedicou-se ao estudo da física atômica,
trabalhando com o professor russo Gleb Wataghin, na USP. Na época, cientistas do
mundo todo questionavam como os prótons mantinham-se unidos no núcleo do
átomo. Em 1946, inquieto com a questão, o jovem Lattes foi para a Universidade de
Bristol, na Inglaterra, unindo-se a Powell e a Occhialini.
Convencido da vantagem de aproveitar os raios cósmicos em vez dos aceleradores
de partículas, em 1947 partiu para Chacaltaya, um dos picos mais altos dos
Andes bolivianos, onde os raios vindos do espaço são mais intensos. Lá, ele expôs
chapas fotográficas aos raios cósmicos, as quais, quando reveladas, mostraram os
traços da nova partícula subatômica (méson-pi).
Sua descoberta marcou o início da chamada física de partículas elementares ou
física de altas energias. Em 1949, voltou para o Brasil, assumindo o cargo de professor
e pesquisador na Universidade do Rio de Janeiro. Recebeu convites para trabalhar em
universidades estrangeiras, mas preferiu fazer carreira universitária no Brasil. A partir
daí, o cientista deu início à construção de aceleradores de partículas cada vez mais potentes,
que caracterizaram a física nuclear do pós-guerra. Ele abriu o terreno à ciência no
Brasil, fundando, com outros cientistas, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
Além do CBPF, Lattes foi mentor de importantes iniciativas como a formação do
Instituto de Matemática Pura e Aplicada, a Escola Latino-Americana de Física e o Centro
Latino-Americano de Física. O cientista também se destacou pelas atividades de
ensino, como a modernização do currículo dos cursos de física e capacitação do pessoal
que constitui, hoje, parcela ponderável da liderança científica atuante na física brasileira.
Lattes teve importante papel na catalisação dos esforços que levaram à criação do
Conselho Nacional de Pesquisas - atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) - em 1951. O Conselho deu novo impulso à pesquisa científica
e tecnológica no Brasil, tendo contado com Lattes na composição de seu primeiro Conselho
Diretor. Em sua homenagem, o CNPq batizou o sistema utilizado para cadastrar
cientistas, pesquisadores e estudantes como com o nome de Plataforma Lattes.
Cesar Lattes foi membro da Academia Brasileira de Ciências, da União Internacional
de Física Pura e Aplicada, do Conselho Latino-Americano de Raios Cósmicos, das Sociedades
Brasileira, Americana, Alemã, Italiana e Japonesa de Física, entre outras associações,
e ocupou numerosas vezes posições de conselheiro, contribuindo com sua experiência e
visão pioneira para a formulação de políticas e diretrizes na área da ciência.
O cientista aposentou-se em 1986, quando recebeu o título de doutor honoris
causa e professor emérito pela Universidade de Campinas. Mesmo aposentado continuou
a viver em uma casa no distrito próximo ao campus da universidade.
A descoberta do méson-pi lhe valeu muitas premiações, incluindo o Prêmio
Einstein, da Academia Brasileira de Ciência (1951), o Prêmio Evaristo Fonseca Costa,
concedido pelo CNPq (1958), o Prêmio Bernardo Houssay, da Organização dos Estados
Americanos (OEA), em 1978, e o Prêmio em Física da TWAS (atualmente Academia
Mundial de Ciência - The World Academy of Science – TWAS: Trieste, Itália), em
1988. Entre as inúmeras honrarias recebidas por ele, destacam-se ainda, Cavaleiro
da Grande Cruz, outorgado pela Ordo Capitulares Stellae Argentae Crucitae (1948);
Prêmio Ciências, do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (1953); Biblioteca
Central Cesar Lattes – UNICAMP.
Ildeu de Castro Moreira
Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso a Ciência - SBPC
Johanna Döbereiner: a cientista que revolucionou a agricultura
Johanna Liesbeth Kubelka Döbereiner nasceu em Aussig, na antiga
Tchecoslováquia, mas foi no Brasil que fincou suas raízes. No município
fluminense de Seropédica, no interior do Rio de Janeiro, ela se estabeleceu e
criou os três filhos – Maria Luísa (Marlis), Christian Erhard e Lorenz. Foram 48
anos na mesma casa, na Rua Colina, ao lado do marido, o médico veterinário
Jürgen Döbereiner. Naturalizada brasileira em 1956, ela chegou ao Rio de
Janeiro em 1950, depois de anos turbulentos que se seguiram à Segunda
Guerra Mundial.
Sua mãe, Margarethe Kubelka, havia morrido em um campo de concentração
tcheco – um dos muitos que foram formados na então Tchecoslováquia após o
conflito, em perseguição a alemães e à parcela da população do país que havia
recebido a nacionalidade alemã no início da guerra. Mas sua força já havia sido
transmitida para Johanna. "Não devemos falar para nossa filha que seu destino
estará alcançado quando encontrar um marido. Devemos dizer à nossa filha que
sua vitória foi atingida quando se orgulhar do que realizou", escreveu Margarethe
em seu diário.
Pouco depois da morte de Margarethe, a família continuou a sofrer a
perseguição dos tchecos, sendo expulsa do País em 1945. O pai, Paul Kubelka, deixou
Praga acompanhado do irmão de Johanna, Werner. Ela, por sua vez, seguiu para a
Alemanha com os avós, deixando para trás a cidade em que vivera desde a infância
e onde por vezes acompanhara o pai nas aulas de Química que ele ministrava na
Universidade de Praga.
O contato com a agricultura se deu em meados da década de 1940, quando
conseguiu um emprego como operária rural em Sadisdorf, na região alemã de
Dresden. Era plantando batatas e ordenhando vacas que ela garantia o salário para
manter a si e a seus avós, que vieram a falecer ainda em 1945. Talvez inspirada pela
força e pela educação que sua mãe lhe dera, decidiu contrariar as convenções de
gênero e matriculou-se no curso de Agronomia da Universidade de Munique – área
de difícil abertura para mulheres. Custeava os estudos trabalhando no campo,
em uma fazenda que produzia variedades melhoradas de trigo, onde também se
preparou para fazer as provas práticas exigidas para o ingresso no curso.
A faculdade deu certeza à Johanna do caminho que iria trilhar. Foi ali que ela
conheceu Jürgen, companheiro de longos anos, e quando desembarcou no Brasil, em
1950, seguindo os passos do pai, foi com o diploma de agrônoma nas mãos que ela
chegou ao Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola do Serviço Nacional de
Pesquisas Agronômicas. Confessou que não aprendera nada prático na universidade,
devido às limitações do pós-guerra, mas que tinha muita vontade para aprender o que
fosse preciso. Foi contratada na hora.
Mas foi nas terras brasileiras que Johanna diz que aprendeu de verdade
a fazer ciência. Em 1957 já era pesquisadora assistente do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, em 1968, pesquisadora
conferencista. Entre 1963 e 1969, quando poucos cientistas acreditavam que a
fixação biológica de nitrogênio poderia competir com fertilizantes minerais, Johanna
deu início a um programa de pesquisas sobre os aspectos limitantes da técnica em
leguminosas tropicais.
Destacou-se, conquistou o respeito de seus pares e, aos poucos, tornouse
mundialmente reconhecida pelo seu trabalho. Mas era modesta. Não
titubeava ao responder quando alguém lhe perguntava como era sua vida de
pesquisadora: "Não tem nada de mais na vida de um cientista. É rotina como
outra qualquer. Só que meu escritório é um laboratório. Sou uma camponesa
no laboratório."
Tal dinamismo não foi ofuscado pelos anos de vida. Fosse aos 30 ou aos 70,
Johanna mantinha o brilho no olhar, a rigidez na apuração dos dados e a convicção
de que somente a ciência e a busca pelo conhecimento poderiam contribuir para uma
agricultura mais sustentável. "Tenho ideias para mais 50 ou 60 anos. Não vou viver
tudo isso. Temos que trocar informações e conhecimentos. A ciência precisa disso",
afirmou, já no auge da sua carreira.
Liliane Bello
Jornalista – Núcleo de Comunicação Organizacional
Embrapa Agrobiologia
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