sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Cientistas Brasileiros César Lattes e Johanna Döbereiner

SOBRE O SELO
Lançamento: 11.12.2018
É um se-tenant com dois selos interligados por elemento em comum entre os dois cientistas retratados: um átomo. Neste caso, o átomo é de nitrogênio e foi representado de maneira lúdica como nos livros didáticos. As cores de base de cada selo também busca se relacionar com o campo de atuação dos dois cientistas. Uma das grandes descobertas de César Lattes foi a partícula atômica Méson Pi. Lattes estudou os raios cósmicos, montando um laboratório em uma montanha nos Andes e utilizando chapas fotográficas melhoradas com boro. O desenho do selo busca ilustrar estes experimentos. Por fim, na textura ao fundo de sua imagem, foram utilizados alguns rascunhos, representando cálculos e fórmulas. Já a engenheira agrônoma Johanna Döbereiner foi pioneira no estudo da biologia do solo e seus estudos tiveram grande impacto na produção agrícola brasileira. A ilustração do selo demonstra sua principal pesquisa: a relação entre uma planta e as bactérias fixadoras de nitrogênio. Como textura ao fundo de sua imagem, foram utilizadas ilustrações em vetor de algumas folhas e leguminosas. Foi usada a técnica de desenho vetorial

Homenagem aos Cientistas Brasileiros 
Com a emissão desses selos, os Correios homenageiam o cientista Cesar Lattes, cujo trabalho e dedicação impulsionou a construção da estrutura político-administrativa de ciência no Brasil, e a cientista Joanna Döbereiner, pioneira no estudo da biologia do solo e na pesquisa sobre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) nas plantas pela bactéria rhizobium, descoberta que tornou-se referência mundial e revolucionou a agricultura no País.

Cesar Lattes 

Cesare Mansueto Giulio Lattes, conhecido como Cesar Lattes, foi um dos cientistas brasileiros mais brilhantes de sua geração. Com apenas 23 anos, ao lado do cientista inglês Cecil Frank Powell e do italiano Giuseppe Occhialini, descobriu uma partícula no interior do núcleo atômico que assegura a coesão do átomo: o méson-pi (pion ou pi-meson). Esse estudo rendeu a Powell o prêmio Nobel de Física de 1950. 
    Filho de imigrantes italianos, Lattes nasceu em 1924, na cidade de Curitiba. Graduou-se em física e matemática pela Universidade de São Paulo (USP) com apenas 19 anos. Após o seu bacharelado, Lattes dedicou-se ao estudo da física atômica, trabalhando com o professor russo Gleb Wataghin, na USP. Na época, cientistas do mundo todo questionavam como os prótons mantinham-se unidos no núcleo do átomo. Em 1946, inquieto com a questão, o jovem Lattes foi para a Universidade de Bristol, na Inglaterra, unindo-se a Powell e a Occhialini. 
    Convencido da vantagem de aproveitar os raios cósmicos em vez dos aceleradores de partículas, em 1947 partiu para Chacaltaya, um dos picos mais altos dos Andes bolivianos, onde os raios vindos do espaço são mais intensos. Lá, ele expôs chapas fotográficas aos raios cósmicos, as quais, quando reveladas, mostraram os traços da nova partícula subatômica (méson-pi). 
    Sua descoberta marcou o início da chamada física de partículas elementares ou física de altas energias. Em 1949, voltou para o Brasil, assumindo o cargo de professor e pesquisador na Universidade do Rio de Janeiro. Recebeu convites para trabalhar em universidades estrangeiras, mas preferiu fazer carreira universitária no Brasil. A partir daí, o cientista deu início à construção de aceleradores de partículas cada vez mais potentes, que caracterizaram a física nuclear do pós-guerra. Ele abriu o terreno à ciência no Brasil, fundando, com outros cientistas, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). 
     Além do CBPF, Lattes foi mentor de importantes iniciativas como a formação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, a Escola Latino-Americana de Física e o Centro Latino-Americano de Física. O cientista também se destacou pelas atividades de ensino, como a modernização do currículo dos cursos de física e capacitação do pessoal que constitui, hoje, parcela ponderável da liderança científica atuante na física brasileira. 
     Lattes teve importante papel na catalisação dos esforços que levaram à criação do Conselho Nacional de Pesquisas - atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - em 1951. O Conselho deu novo impulso à pesquisa científica e tecnológica no Brasil, tendo contado com Lattes na composição de seu primeiro Conselho Diretor. Em sua homenagem, o CNPq batizou o sistema utilizado para cadastrar cientistas, pesquisadores e estudantes como com o nome de Plataforma Lattes. 
       Cesar Lattes foi membro da Academia Brasileira de Ciências, da União Internacional de Física Pura e Aplicada, do Conselho Latino-Americano de Raios Cósmicos, das Sociedades Brasileira, Americana, Alemã, Italiana e Japonesa de Física, entre outras associações, e ocupou numerosas vezes posições de conselheiro, contribuindo com sua experiência e visão pioneira para a formulação de políticas e diretrizes na área da ciência.

     O cientista aposentou-se em 1986, quando recebeu o título de doutor honoris causa e professor emérito pela Universidade de Campinas. Mesmo aposentado continuou a viver em uma casa no distrito próximo ao campus da universidade. 
       A descoberta do méson-pi lhe valeu muitas premiações, incluindo o Prêmio Einstein, da Academia Brasileira de Ciência (1951), o Prêmio Evaristo Fonseca Costa, concedido pelo CNPq (1958), o Prêmio Bernardo Houssay, da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1978, e o Prêmio em Física da TWAS (atualmente Academia Mundial de Ciência - The World Academy of Science – TWAS: Trieste, Itália), em 1988. Entre as inúmeras honrarias recebidas por ele, destacam-se ainda, Cavaleiro da Grande Cruz, outorgado pela Ordo Capitulares Stellae Argentae Crucitae (1948); Prêmio Ciências, do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (1953); Biblioteca Central Cesar Lattes – UNICAMP. 
Ildeu de Castro Moreira 
Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso a Ciência - SBPC

Johanna Döbereiner: a cientista que revolucionou a agricultura 

Johanna Liesbeth Kubelka Döbereiner nasceu em Aussig, na antiga Tchecoslováquia, mas foi no Brasil que fincou suas raízes. No município fluminense de Seropédica, no interior do Rio de Janeiro, ela se estabeleceu e criou os três filhos – Maria Luísa (Marlis), Christian Erhard e Lorenz. Foram 48 anos na mesma casa, na Rua Colina, ao lado do marido, o médico veterinário Jürgen Döbereiner. Naturalizada brasileira em 1956, ela chegou ao Rio de Janeiro em 1950, depois de anos turbulentos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. 
      Sua mãe, Margarethe Kubelka, havia morrido em um campo de concentração tcheco – um dos muitos que foram formados na então Tchecoslováquia após o conflito, em perseguição a alemães e à parcela da população do país que havia recebido a nacionalidade alemã no início da guerra. Mas sua força já havia sido transmitida para Johanna. "Não devemos falar para nossa filha que seu destino estará alcançado quando encontrar um marido. Devemos dizer à nossa filha que sua vitória foi atingida quando se orgulhar do que realizou", escreveu Margarethe em seu diário. 
       Pouco depois da morte de Margarethe, a família continuou a sofrer a perseguição dos tchecos, sendo expulsa do País em 1945. O pai, Paul Kubelka, deixou Praga acompanhado do irmão de Johanna, Werner. Ela, por sua vez, seguiu para a Alemanha com os avós, deixando para trás a cidade em que vivera desde a infância e onde por vezes acompanhara o pai nas aulas de Química que ele ministrava na Universidade de Praga. 
       O contato com a agricultura se deu em meados da década de 1940, quando conseguiu um emprego como operária rural em Sadisdorf, na região alemã de Dresden. Era plantando batatas e ordenhando vacas que ela garantia o salário para manter a si e a seus avós, que vieram a falecer ainda em 1945. Talvez inspirada pela força e pela educação que sua mãe lhe dera, decidiu contrariar as convenções de gênero e matriculou-se no curso de Agronomia da Universidade de Munique – área de difícil abertura para mulheres. Custeava os estudos trabalhando no campo, em uma fazenda que produzia variedades melhoradas de trigo, onde também se preparou para fazer as provas práticas exigidas para o ingresso no curso. 
         A faculdade deu certeza à Johanna do caminho que iria trilhar. Foi ali que ela conheceu Jürgen, companheiro de longos anos, e quando desembarcou no Brasil, em 1950, seguindo os passos do pai, foi com o diploma de agrônoma nas mãos que ela chegou ao Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola do Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas. Confessou que não aprendera nada prático na universidade, devido às limitações do pós-guerra, mas que tinha muita vontade para aprender o que fosse preciso. Foi contratada na hora.
          Mas foi nas terras brasileiras que Johanna diz que aprendeu de verdade a fazer ciência. Em 1957 já era pesquisadora assistente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, em 1968, pesquisadora conferencista. Entre 1963 e 1969, quando poucos cientistas acreditavam que a fixação biológica de nitrogênio poderia competir com fertilizantes minerais, Johanna deu início a um programa de pesquisas sobre os aspectos limitantes da técnica em leguminosas tropicais. 
           Destacou-se, conquistou o respeito de seus pares e, aos poucos, tornouse mundialmente reconhecida pelo seu trabalho. Mas era modesta. Não titubeava ao responder quando alguém lhe perguntava como era sua vida de pesquisadora: "Não tem nada de mais na vida de um cientista. É rotina como outra qualquer. Só que meu escritório é um laboratório. Sou uma camponesa no laboratório." 
      Tal dinamismo não foi ofuscado pelos anos de vida. Fosse aos 30 ou aos 70, Johanna mantinha o brilho no olhar, a rigidez na apuração dos dados e a convicção de que somente a ciência e a busca pelo conhecimento poderiam contribuir para uma agricultura mais sustentável. "Tenho ideias para mais 50 ou 60 anos. Não vou viver tudo isso. Temos que trocar informações e conhecimentos. A ciência precisa disso", afirmou, já no auge da sua carreira.
Liliane Bello Jornalista – Núcleo de Comunicação Organizacional
Embrapa Agrobiologia

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